sábado, 4 de julho de 2009

A Era dos Dinossauros

DATA: 65 milhões a.C.
Não há um filme que conte as circunstâncias do Big Bang – mesmo porque não haveria personagens para agir nessa situação –, portanto nada mais justo do que iniciar o processo de narração da História pelos lagartos terríveis, vulgo dinossauros.
Durante todo o período em que o cinema foi se aprimorando, os dinos dificilmente eram bem tratados. Alçados como feras assassinas gigantes feitas de massinha de modelar nos primeiros filmes, eles disputavam terrenos de maneira violenta e normalmente faziam seres humanos de petiscos. Se as terras inóspitas do planeta asseguravam o habitat desses repteis, caçadores desalmados adoravam invadi-las ao seu bel prazer. E assim, perseguidos como monstros, os bichos caíam em desgraça ou eram mantidos em paz.
Deve-se dar graças a Michael Crichton, Steven Spielberg e George Lucas pela concepção dos dinossauros como animais e não aberrações. Através de efeitos especiais por computador aprimorando o realismo, esses seres influíram no imaginário da geração que chegava ao fim do século XX. No entanto, os erros científicos sempre interferem na visão dos cientistas mesmo que seja para contar uma boa estória: os Velociraptores são muito grandes, o Tiranossauro não corria tanto e por aí vai. Independente do que dizem, os autores sabem no que estão mexendo, pois peritos trabalham com eles. O problema é a visão distorcida que o público vai ter.
A série Jurassic Park ainda representa bem a recriação pela clonagem de tais espécies por gananciosos seres humanos enquanto se proliferam por um mundo perdido no meio do oceano. Deve-se levar em conta que as estórias situam os dinossauros nos dias atuais e não em sua própria época. As mudanças se equivalem dentro do padrão da ficção.
Então, o que dizer de Dinossauro (2000)? Compromete-se como uma versão tecnicamente mais rica que a animação 2-D Em Busca do Vale Encantado, lançado em 1988. Nos dois casos, a idéia básica está na diáspora que assola a vida na Terra. Se em Vale Encantado devastadores abalos sísmicos e erupções vulcânicas modificam todo o aspecto terrestre – aludindo à deriva continental –, em Dinossauro existe o gigantesco meteoro em queda e, por conseguinte, explodindo como uma bomba atômica voraz.
Aos poucos, a vida vegetal beira à escassez enquanto as espécies herbívoras são presas cada vez mais fáceis dos bichos carnívoros. Ambas as obras tinham a idéia de serem quase documentais, ou seja, não haveria qualquer diálogo. Os dinos urrariam, os sons “naturais” teriam predominância e o espectador poderia ambientar-se com a vida selvagem. Contudo, mudanças de roteiro e apelos de membros (in)diretamente ligados à produção ocasionaram tais anacronismos. O resultado é sofrível.

Dinossauro busca no realismo contemplar absurdos espetaculares e risíveis: por que animais do período Jurássico devem se misturar aos do Cretáceo sendo que já estavam extintos? Por que todo carnívoro é vilão e todo herbívoro é mocinho? Por que re-filmar Em Busca do Vale Encantado com efeitos de Jurassic Park (ambos com dedo de Spielberg)? Por que enfiar um final feliz abusivo sendo que todo mundo foi morto milhares de anos depois? Porque é Disney! E pode-se até qualificar este desenho entre os piores feitos pelo estúdio. Em compensação, os efeitos são magníficos: logo no começo com o vôo singular do pterodáctilo, passando à explosão do meteoro que invoca a peregrinação, não a muito do que reclamar. E fica nisso.
Sendo assim, Em Busca do Vale Encantado intencionava ser bem infantil, justificando até a falta de exatidão científica para enfeitar dramaticamente a estória. Em contraparte, o conteúdo de Dinossauro chega a ser tão piegas que o espectador mais cético o menospreza por completo. Sério, se a extinção dos dinossauros foi tão maniqueísta é preferível acreditar em Chuck Norris se apresentando na pré-história e dizendo: “Olá dinossauros! Eu sou a extinção.

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