sexta-feira, 18 de setembro de 2009

É possível opinar sobre um filme sem tê-lo visto?

Bem, TODO mundo faz isso. Eu fiz isso várias vezes e tenho certeza de que você também já fez o mesmo. É inevitável seja por não gostarmos de determinado ator ou diretor, seja por rejeitarmos tal estilo ou gênero. A situação se complica quando chegamos a excluir – ou excluir-se – a pessoas que gosta de algo avesso às nossas interpretações e ideais. Mas isso é outra história e fica para depois.

De qualquer forma, a indagação veio de duas maneiras em minha mente: a primeira oriunda de uma lembrança em que uma amiga elogiou um filme estrelado pelo fraco galãzinho Paul Walker – se me recordo fora No Rastro da Bala – e rapidamente o taxei de “policial menor”, ou “pérola para Sessão da Tarde”. Isso ocorreu há três anos e não vi a obra até hoje; porém continuo achando o mesmo e talvez nunca o veja.

O segundo motivo está no site Cinematical. Cada membro do site escreve sobre um filme que jamais assistirá e explica o porquê de não fazê-lo. No caso, li o artigo de Dawn Taylor sobre A Lista de Schindler. Segundo ela, as razões são tão pessoais que perdeu o interesse, além de relembrar momentos tristes de sua vida em 1993, mas o fator principal se deve ao próprio diretor Steven Spielberg que, segundo ela, foi “capegando” com o tempo e tornando-se enfadonho com adaptações de massacres e escravidão.

Dentre a maioria dos internautas que repudiaram tal tipo de coluna, destaco dois que rebateram este artigo especificamente:

Internauta 1
– Eu não gosto desse filme.
– Você o viu?
– Não, mas não gosto.

Internauta 2
– Você aprecia o gosto da urina?
– Não.
– Você já bebeu?
– Não, mas usei meus poderes de observação para deduzir que desde que sei de onde vem e não ligar muito para o cheiro, ao invés de beber mijo, eu posso ter uma Coca.
– Oh.
– Mas aí, provavelmente eu não começaria um novo segmento chamado “Por que eu não beberei mijo”. Pois, sabe, eu não trarei nada à tona.

O problema não é realmente o fato da pessoa não assistir tal filme, mas a tentativa de explicar o porquê de não vê-lo. As opiniões de ambos internautas de alguma forma estão corretas. Que diferença faz isso? Para onde ir com um assunto que não leva a lugar nenhum? O que estou fazendo ao tentar questionar este tipo de posicionamento? Afinal é possível opinar sobre um filme sem tê-lo visto?

A começar pela diferença, esta não existe mesmo porque sem julgamento sobre um assunto ao qual não se conhece, não há discussão, certo? Por sua vez, o assunto não vai adiante e felizmente morre. Agora, questiono porque além de ter participado deste tipo de situação inumeráveis vezes, uma grande parte das pessoas que vai às locadoras dependem desse posicionamento por parte do atendente. É uma relação de dependência. E, neste processo, sim é possível dar sua opinião sobre QUALQUER filme, até pornô – mesmo o funcionário sendo um puritano de carteirinha. Desculpem-nos clientes, mas vocês são todos tapados.

É questão de piloto automático. O atendente faz seu trabalho com dinamismo e assiduidade e, portanto, quase todos os filmes se tornam bons para simplesmente passar pelo crivo da clientela e ser alugado. Puro apelo mercadológico. Contudo, mesmo que tais opiniões declaradas sejam positivas, o diálogo acerca do produto não dura muito. E o funcionário toma cuidado para não avançar num terreno desconhecido, afinal ele não pode (e nem deve) assistir mais de 10% do acervo da loja.

Fora esse trabalho, eu não consigo visualizar motivos para opinar sobre um filme cujo enredo ou personagens passem sem uma observação atenta do espectador. Procede? Eis o ponto: como toda mercadoria – para os intelectuais, arte – deve haver algo que atraia o público; se o negócio não chama a atenção de determinada pessoa, é muito provável que esta tenha desprezado – inconsciente talvez. Milhares de reclamações foram feitas acerca do trailer de Avatar, que estreará em dezembro, mas dispostas por uma massa de gente que viu pela internet e perdeu (ou não quis) ver a versão em 3D e IMAX.

Isso é um exemplo. Na verdade, cada filme, livro, música, pintura, escultura, fotografia etc. tem como principal meta ser avaliado por alguém. Portanto, sem vê-los, sem senti-los não podemos impugná-los a nada. É uma pena que nosso gosto pessoal se estabeleça freneticamente ao libelo do conhecemos e de nossos ideais. Sempre perderemos algo o que exprime uma estranha sensação de que continuamente se requer um novo aprendizado. De maneira não muito favorável também defrontaremos com nossas escolhas para analisar tudo. Sendo assim, talvez nunca veja realmente No Rastro da Bala. Não que me importe com isso.

Um comentário:

  1. Lendo isso me lembrei das enquetes a resipeito de qual filme os brasileiros gostariam que fossem indicado ao Oscar. E para surpresa a maioria votou no Besouro, que nem estreiou ainda. Dá pra entender?

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