quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um lance na videolocadora

Opinião é como bunda, todo mundo tem uma. Então porque diabos as pessoas dependem tanto do julgamento alheio sobre determinadas questões irrelevantes? Após certa experiência em trabalho de vídeolocadora não consigo desvincular os clientes freqüentadores desse tipo de loja com drogados. Sua ânsia por novidades que as motivem e lhe dêem prazer caem nas costas de um atendente.

Normalmente, uma pessoa entra numa locadora e pergunta “o que chegou de novo”. Como bom funcionário, o rapaz (ou a moça) pára tudo o que está fazendo e proporciona uma boa recepção ao cliente mostrando os novos produtos que vieram às prateleiras na última semana – ou no último mês. Entre apresentações de títulos, atores e sinopses, surge em questão de segundos a inevitável pergunta por parte do freguês: “É bom? Você já viu?”.

Julgue-me radical se quiser, mas que diferença faz se o funcionário assiste aos filmes ou não? Se tiver assistido à obra e odiado o que viu, a resposta do atendente vai refletir diretamente na opinião do cliente e este deixará de alugar a fita. Se não, o mesmo pode levar o filme só porque alguém disse que é bom. Isso ainda é um indivíduo. Imagine 40 deles perguntando a mesma coisa. É uma dependência de opinião absurda. E esses funcionários nem sempre são especialista em cinema, apenas gostam de ver filmes.

O cliente quer ter sempre razão. Ele quer ganhar. Ou seja, se o filme for bom e a pessoa gostar, estará satisfeito; caso contrário, a culpa é do atendente da locadora que não lhe indicou algo decente. Já indiquei Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! para uma senhora que gostou de todos os demais filmes do trio ZAZ. Três dias depois, com ares de indignação, ela me diz que odiou a obra.

Recentemente, duas garotas por volta de 14 anos não sabiam o que alugar e queriam que eu lhes indicasse uma comédia engraçada – como se humor fosse igual para todo mundo. Mostrei alguns filmes em que obtive apenas careta como resposta até que surgiu Zoolander (muitos odeiam o filme, mas não importa, tinha que indicar alguma coisa). Fiz uma explicação simples:

– A estória tira sarro de modelos e num deles é feito lavagem cerebral pra matar um político asiático.
– Política? Deve ser chato. – respondeu uma delas.
– A política é só no fato do cara ser presidente. Não vai além disso. – argumentei.
– Não quero. – pausa – Você viu Leões e Cordeiros?
– Vi, é bem legal, mas é drama e político. Acho que vocês não iriam gostar.
– Nossa, você tem um péssimo gosto. O filme é uma droga.
– Se o gosto é ruim, então porque pedem indicação. Aluguem sozinhas.

Esse é um caso em que não me contive. Ou ficava entalado na garganta e eu me arrependeria como ocorreram outras vezes, ou liberava o badaró logo de uma vez. Estava à solta a vontade de ser Randal, o atendente da vídeolocadora de O Balconista.

Porém, nem sempre dá para responder argumentos imbecis. Mesmo que se crie um leque de possibilidades com coisas de qualidade o cliente ainda consegue ser infantil e indagar: “Qual desses é melhor?”

É um hábito viciante. Atinge desde crianças até idosos. Não é crime – nem tem como ser, são perguntas –, mas são simplistas, superficiais, sem propósito; não vai além do “bom” e do “ruim”. As pessoas estão tão carentes de algo maior, que muitas vezes não conseguem saber do que gostam. Não conseguem valorizar o que têm dentro de si e fazer suas próprias escolhas. Ficaram ineptos e acomodados.

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