terça-feira, 7 de julho de 2009

The Unforgiven

Os vídeos musicais que julgo serem muito bem construídos são caracterizados por narrativas curtas e possibilitam uma linguagem inteligentemente coesa e profunda. Sempre busca em estéticas antigas do cinema esse apoio moral aprimorando com mais agilidade novos paradigmas audiovisuais – que de maneira inevitável influenciou o cinema atual.

Enquanto algumas excepcionais músicas são por si trunfos de seus criadores e auxiliam na imaginação de estórias trágicas ou cômicas sem cair na redundância, outros videoclipes se sintonizam a estas canções elevando-as a algo maior com uma teatralidade apurada.

Apresento então The Unforgiven, obra soberba do Metallica que foi inserida no Black Album lançado em 1991. Este disco causou horrores por dois motivos: o primeiro consiste na mudança de som deixando o trash de lado para abranger a um rock pesado com mais amplitude popular; o segundo alçou a banda ao estrelato mundial por conseqüência dos recordes de vendas para o gênero.

A música é uma balada pesada e melancólica de um ser humano obrigado a ser o que os homens mais velhos (ditos mais sábios) querem que ele seja. A perda de identidade é uma questão de tempo enquanto os arrependimentos surgem pela falta de combate e envelhecem amargamente como um velho enfurnado num obscuro canto de sua alma. As letras são influências de seu autor, James Hetfield, que cresceu no mundo nebuloso da crença dos seus pais, a Ciência Cristã.

Para evocar tal aspecto espinhoso, o vídeo de Matt Mahurin segue uma estrutura expressionista de fotografia para conceber tal brutalidade depressiva. As expressões atemorizadas do personagem em suas várias facetas equiparam-se às mesmas dos filmes alemães dos anos 20, assim como, os fechamentos de planos que gradualmente escurecem o ambiente lúgubre. E é neste local que o personagem menino se afunda num muquifo, uma toca de rato, para enganar os homens sábios. O buraco tem uma aparência de deboche vinculada ao pôster de um palhaço enganador que se satisfaz com a angústia alheia, com o bullying descabido. E o guri reflete sua penumbra travestindo-se de clown e com um singelo “vá se foder”. demonstra seu apreço pelo mundo que o condena.

E em certo momento, quando envelhecido, o homem fura sua mão e esparrama sangue pela parede. Uma palavra inscrita no cimento – yest, possível contração de yesterday – alude ao seu passado desesperançoso: What I've felt/ What I've known/ Never shined through in what I've shown/ Never free/ Never me/ So I dub the unforgiven.

O clima do vídeo claramente deprime qualquer um, mas as amostras de poder durante as estrofes e a sensibilidade do refrão conferem à canção uma dinâmica facunda, mesmo com as dificuldades transmitidas pelo enredo. Intrincada e personalista, a música foi um dos grandes sucessos do álbum; contudo esta obra de arte de Mahurin segue como o melhor toque visual da banda sendo difícil sua superação.


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