quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Por que a Xuxa recebeu uma homenagem no Festival de Gramado?

Infelizmente eu não tenho a resposta. Desde que ouvi falar do Festival de Gramado, percebi que muitos filmes participantes são, em sua maioria, esquecidos – observe, não são esquecíveis. Quem se lembra de Cassy Jones: o Magnífico Sedutor? Luís Sérgio Person recebeu um prêmio de diretor por esta obra. Ou, que tal, For All - O Trampolim da Vitória? Este ficou com o Kikito máximo de melhor filme em 1997 quando a produção cinematográfica brasileira ainda (re)engatinhava.

E, diante de tal posição pouco memorável para o festival – além de quem participa dele –, uma comissão resolve promover categorias especiais, com intuito de homenagear célebres artistas que auxiliaram o nosso cinema a ser o que é. Renato Aragão recebeu uma dedicatória por sua enorme contribuição ao lado do grupo Os Trapalhões sendo que este comediante é tão ilustre quanto seu antecessor popular, o grande Amácio Mazzaropi. Tá, mas por que a Xuxa merece tal honraria?

No portal G1 (olha só, da Globo...) está escrito o seguinte:

Segundo Alemir Coletto, presidente da mostra gaúcha, esse tipo de reconhecimento aos filmes infantis demonstra o “espírito democrático” do festival. “Ao longo de sua carreira, Xuxa foi uma atriz e produtora que ajudou a popularizar os filmes nacionais. O festival se engrandece de poder contar com sua presença como celebridade e ícone do nosso cinema”.
Coletto explica que a comissão organizadora da mostra escolhe os homenageados “por sua contribuição ao cinema brasileiro, independente do gênero dos filmes”. Já os filmes da mostra competitiva são selecionados por um grupo de especialistas. Por isso, uma produção infantil dificilmente concorreria no festival.
“É importante não confundir homenagem com mostra competitiva. Os filmes selecionados para a competição são determinados por um júri especializado, que leva em conta diversos elementos. A homenagem é um registro das personalidades importantes para a engrenagem do nosso cinema, independente das funções que desempenhem na frente ou atrás das câmeras”, explica o presidente.

A melhor resposta a isso foi escrita por Pablo Villaça em seu blog:

Surpreso com a notícia, faço uma rápida busca e descubro que a justificativa por trás da homenagem é o fato da Rainha dos Baixinhos ter levado "36 milhões de pessoas" aos cinemas com seus filmes. E, para mim, isto ajudou a solidificar uma opinião que muitos já manifestaram em voz alta: o Festival de Gramado acabou.
E mal posso esperar pela homenagem a Michael Bay no Oscar 2010.

Não tenho como discordar do editor e crítico do Cinema em Cena. Inclusive, imaginei o mesmo lance sobre o grandioso diretor de Transformers. Em que a Xuxa contribuiu ao cinema brasileiro? Ela não interpretou personagens, mas a si mesma. Seus filmes maniqueístas e despropositais não encantam pessoas em si, mas enchem a cabeça alheia de pensamentos vazios de uma moça, ou melhor, de uma mulher adulta querendo ser princesa. Isso é um benefício?

Daria um crédito a Lua de Cristal por ser parte da minha infância, contudo, em termos de história nada mais é do que uma redundante alegoria da apresentadora; um produto bem vendido e, por isso, tornou-se o maior sucesso de público em 1990. E quanto aos outros? Super Xuxa Contra Baixo Astral (1988) foi uma cópia chinfrim e paupérrima d’O Labirinto (1986); e também conta com uma das piores canções da época o que até enaltece o filme de David Bowie postulando-o a uma obra-prima.

Depois de Lua de Cristal, a Rainha dos Baixinhos ficou nove anos sem lançar outra investida de sua humilde soberba na grande tela. Quando chegou 1999, Xuxa Requebra estourou nas bilheterias brasileiras e deu início a uma série de trabalhos sem qualquer ideologia, eficácia cinematográfica ou comprometimento lúcido com uma interpretação. Sabe o que é interessante? Nos Estados Unidos, Michael Bay faz o mesmo! Sabe o que é pior? Ele também ganha um grana preta fazendo isso! Porém, existe uma diferença: no presente momento, nenhum representante do Globo de Ouro ou da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood se manifestou quanto a conceder tal honraria a esse intrépido diretor. Na verdade, Edward D. Wood Jr. mereceria muito mais uma homenagem (nem que fosse póstuma!) do que Bay. Quer saber, Arnold Schwarzenegger merece mais o tributo.

Houve um vazio nesse festival. Para preencher o espaço, a comissão cometeu a atitude infame enfiando um pobre conceito de cinema. Pelo menos, conseguiram ter atenção popular apesar de não ser da melhor maneira.

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