sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A mediocridade dos títulos de filmes

Existem nomes de filmes que simbolizam um descaso com a inteligência do espectador. Na verdade, há anos tais títulos envergonham o verdadeiro apreciador do cinema extraindo equivocadamente termos que nada condizem com o conteúdo da obra. Não é de hoje e não tem hora para acabar já que de tempos em tempos uma revista ou jornal bate neste ponto devido à falta de originalidade e desrespeito ao trabalho alheio.

Nesta sexta-feira, estréiam dois casos bem evidentes de títulos sem vergonha: Uma Prova de Amor e Falando Grego – um drama familiar e uma comédia romântica, respectivamente. Ambos poderiam ter nomes simples como “A Guardiã de Minha Irmã” (apesar da rima cafona) e “Minha Vida em Ruínas”, contudo as pessoas que criaram os títulos oficiais possuem a sabedoria levianamente limitada e, por isso, procuraram por meio de um apelo fácil chamar a atenção do público através de palavras-chave um tanto dissimuladas.

Vejamos o primeiro filme. A história se concentra numa garota adolescente que descobre a verdadeira faceta de sua existência: doar medula óssea à sua irmã mais velha que luta contra a leucemia. O embate se estabelece quando passa a questionar a atitude dos pais mesmo sendo uma espécie única estabelecida como “guardiã” de outra pessoa. Desta forma, o título Uma Prova de Amor mostra-se ilógico. Abranda o fato e o esconde do espectador sendo que no original My Sister’s Keeper a idéia proposta é escancarada; além disso, através de expor as palavras “prova” e “amor” evidencia-se um filme de claro caráter emotivo, mas que subtrai a análise de quem o assiste – em minha visão não existe qualquer prova de amor na história do livro, por exemplo.

Isto me lembra aquele filme cujo personagem era um pai com deficiência mental interpretado por Sean Penn que tentava obter a guarda da filha na justiça, Uma Lição de Amor. O nome original I Am Sam era simples e já até introduzia a apresentação do angustiado pai. No entanto, o estado de espírito do tradutor (ou marketeiro) falou mais forte e surgiu a tal “lição de amor” para estampar encartes e banners por aí. Engraçado que, com relação a outro filme do mesmo naipe, estendeu-se o título original Radio para Meu Nome é Rádio. Ambos não são dos mesmos produtores e sequer do mesmo estúdio, mas a incongruência aparece descaradamente.

Falando Grego é um caso à parte. Depois de Nia Vardalos atuar em Casamento Grego sua persona vinculou-se a ele como Christopher Reeve se fixou em Superman. Já trabalhei em locadora e nunca vi uma pessoa que tenha deixado de perguntar: “essa não é a atriz daquele filme do casamento?” Isso acontece com muitos atores em projetos memoráveis, mas a atriz e a obra se misturaram afinal o outro “grande” projeto dela foi o esquecível Connie & Carla. Ou seja, para o público reconhecer e lembrar quem é Nia Vardalos associaram Falando Grego com Casamento Grego. O fato de ser do mesmo gênero e constituir sintonia com a Grécia torna-se fatídica a associação. E, desta forma, perde-se o título original My Life in Ruins que quer se conectar a concepção da nação grega: uma vida fragmentada num país geográfica e historicamente fragmentado.

Não é por criticismo que escrevo com indignação sobre o assunto. Alguns títulos brasileiros conseguem se redimir mantendo no mínimo a essência do produto, outros de tão intraduzíveis ficam com o nome original. Porém sempre surge umas aberrações, principalmente entre os dramas e as comédias. É primordial que estes venham taxados com termos extremamente emotivas ou estupidamente idiotas – caso de O Som do Coração (August Rush, o nome do personagem principal) e Se Beber, Não Case! (The Hangover, ou “A Ressaca”).

Este tipo de ruína dos títulos assegura o aspecto marketeiro para a divulgação de filmes. Como existem coisas mais importantes na vida para se fazer (inclusive ler este texto), as pessoas pouco indagam e questionam. Está cada vez mais difícil de pensar em novos assuntos ou novas idéias; por isso, mastigam-se nomes, estilos, gêneros através de palavras-chave. O público os assiste por associações simples e, dependendo de um gosto particular, acaba se ferrando. Foram ignorados e, pior, sua capacidade de compreensão foi menosprezada.

Uma observação: Em Portugal, o título My Life in Ruins ficou exatamente como o original, A Minha Vida em Ruínas; The Hangover traduzido também ficou como A Ressaca.

Um comentário:

  1. É... mas você tá sendo meio parcial nisso. Podia falar também de títulos que foram mudados (para melhor) na "tradução", como Sobre Meninos e Lobos (Mystic River).
    =)

    ResponderExcluir