segunda-feira, 27 de julho de 2009

Reboots: quem começou?

Perambulando pela internet muitos sugerem que a onda de reinícios para franquias tiveram como causa mortis Batman Begins e que Christopher Nolan apresentou uma inovação ao moldar uma cinessérie com qualidade e inteligência, em detrimento das versões antigas. Contudo, outros produtores propuseram excluir trabalhos anteriores e começar tudo de novo antes da roupagem moderna do Homem-Morcego. Tem sido um método muito eficaz nos últimos anos, mas não é algo novo e nem hollywoodiano. Em passagem rápida pela história do cinema pode-se verificar que os japoneses fizeram reboots aparentemente com bastante eficiência.

Um monstro atômico
Em meados da década de 1980, a Toho programou um reinício à franquia Godzilla. Depois de quinze capítulos da era Showa, o lagarto-baleia apareceu diferente em O Retorno de Godzilla que ignorou completamente as seqüências lançadas entre 1955 a 1975 fixando-se apenas no original de 1954. Antes o monstro era tratado como herói salvando humanos de inimigos alienígenas e as estórias buscavam avivar mensagens acerca de problemas sociais; na era Heisei, o mesmo seria uma espécie de anti-herói, com ares mais intimidadores e seus capítulos proporcionaram uma ordem cronológica. Esse período durou sete filmes até finalizar em 1995.

Três anos depois, a Toho virou parceria da Sony para fazer uma versão americanizada do lagarto japonês. Intitulado Godzilla, o filme teve direção de Roland Emmerich e produção de Dean Devlin sendo que ambos escreveram o roteiro. Embalados pelo blockbuster do estúdio Fox, Independence Day, o projeto avançou apresentando um monstro atlético – mais animal, sem a tradicional “pancinha” – e jogando a “culpa” por sua criação nos franceses em decorrência dos testes nucleares realizados na Polinésia – no Japão, a culpa é dos Estados Unidos com suas bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki.

O filme não fez diferença nenhuma em termos culturais tornando-se um fracasso de bilheteria tão estrondoso quanto seu merchandising e, embora permita uma continuação, esta nunca foi levada adiante. Por sua vez, a Toho seguiu adiante e “rebbotou” a franquia pela terceira vez, iniciando a era Millennium. Godzilla 2000 voltava às origens nipônicas enfatizando o medo das pessoas, mas sem qualquer relação de continuidade nos seis filmes da série.

O novo 007
Em outro exemplo, há no Ocidente um dos mais célebres personagens da Guerra Fria: James Bond. O espião de Sua Majestade sofreu alternâncias com variados intérpretes ao longo de 40 anos, mas mantendo muito de sua essência através de vilões característicos e aliados de sempre – desconta-se a atuação que tinha detalhes distintos na personalidade de cada ator. De acordo com a cronologia oficial dos filmes, os primórdios de sua carreira foram parcialmente omitidos, mas daí sempre se pôde ler os livros para conhecer tal estória. E após o 20º capítulo, os produtores resolveram fazer um reboot à franquia, verdadeiramente o primeiro – quem sabe, o único.

Admirável que se inclua erroneamente Batman Begins como o catalisador do reinício da saga do espião. Enquanto os produtores buscavam diretor, atores e locações para as filmagens de Cassino Royale, um primeiro roteiro era escrito no ano de 2005 por Neal Purvis e Robert Wade; e, no segundo semestre, ele foi reescrito por Paul Haggis. Paralelamente, Christopher Nolan terminava a pós-produção de sua idéia para a franquia da Warner que estrearia em junho daquele ano. Então como o Homem-Morcego poderia afetar James Bond? Bem, não fez nada para incitar tal reação. O interesse para a nova fórmula de Bond estava a cargo de duas franquias: a saga de Jason Bourne e de Jack Bauer.

Por incrível que pareça, nem sempre os dois têm essa credibilidade, mas é fato que a Universal e Fox construíram um novo estilo da espionagem moderna. Lançado em 2002, A Identidade Bourne tinha algo novo, mais real, mais frenético. Naquele verão americano apareceu logo após a estréia de outra tentativa de reboot, A Soma de Todos os Medos. Ambos queriam identificar o público com o mundo atual, uma espécie de realidade paranóica, coincidentemente após os atentados de 11 de Setembro. Em matéria de renda, empataram. Só que o reinício para Jack Ryan provou ser fogo de palha e até hoje o estúdio Paramount tenta reerguer a série.

Neste momento também, a série de TV 24 Horas chegava à segunda temporada. Esbanjando absurdos, criatividade e realismo, seu herói carismático empreitava uma verdadeira caçada terrorista dentro do mundo estadunidense. O programa atingiu um público massivo e não passou longe de assuntos sociais relacionadas à tortura, fundamentalismo e paranóia coletiva. Além disso, Jack Bauer atravessava linhas tênues de todo o tipo para conter inimigos da democracia, como seu próprio país fez e ainda faz como “xerife do mundo”.

Aí, em novembro de 2002, a MGM lançou Um Novo Dia Para Morrer. O herói de ação Bond não passava de um personagem que brincava de ser espião cujo mundo beirava ao maniqueísmo auxiliado por fanáticos que constroem castelos de gelo. Esta diversão escapista apresentou um Pierce Brosnan bem mais velho, mas rendeu uma boa grana tornando-se o filme de maior arrecadação da franquia – reajustando valores 007 Contra Chantagem Atômica de 1965 ainda é o mais visto na tela grande. Porém, os produtores notaram uma mudança de padrões rapidamente justamente com Bourne e Bauer.

A Supremacia Bourne (2004) provou que o antecessor não era um mero sucesso momentâneo e, em 2007, O Ultimato Bourne definiu o gênero de espionagem por completo por sua trama cabalística e complexa para este século XXI. Corroborando tais tramas internacionais, a série 24 manteve excelente ritmo para seu infalível intérprete durando oito temporadas e um filme para a TV. O fim do contrato com Pierce Brosnan abriu as portas para se repensar o espião inglês e daí o reboot foi declarado com Cassino Royale (estranhamente, também é uma refilmagem). Portanto, neste caso, Batman de nada auxiliou Bond.

Terror revisitado
A partir da década de 1970 surgiram filmes com grande apelo comercial que poderiam se enquadrar como franquias: Dirty Harry, O Massacre da Serra Elétrica, O Exorcista, Tubarão, Star Wars, Superman, Halloween e Sexta-feira 13. Muitos tiveram continuações excessivas que diluíam a idéia original em prol do sensacionalismo barato e violência sem contexto. Era, para o bem ou para o mal, uma época de intensificação do método de render dinheiro que foi levada aos anos 80. Logo, o público-alvo adolescente extasiava-se principalmente com filmes de terror que engatilhavam sucessos através intermináveis seqüência sanguinolentas.

Na última década do século XX, metade desses filmes citados ou estavam enterrados ou em processo de abotoar o pijama de madeira. Contudo, surgiram ocorrências de “reboot de gêneros” incluindo-se aí o cinema-catástrofe e os assassinos em série carniceiros. O segundo caso se deu melhor, pois o custo era ínfimo, e começou em 1996 com Pânico, de Wes Craven. Essa nova onda do terror gerou trocentos filhotes ao redor do mundo e abriu brecha para assuntos ligados exclusivamente aos jovens, avivando até as comédias românticas.

Passada essa febre juvenil, surgiu outra: o da violência explícita. Em 2003, O Massacre da Serra Elétrica atualizou a carnificina do filme de 1974. Tratava-se de uma mera refilmagem, mas o sucesso tornou inevitável o método de revitalização e novos reboots sairiam cedo ou tarde. O Massacre ganhou um prequel quando a cinessérie Jogos Mortais atingia o estômago do espectador com uma crueldade absurda. E logo vieram Halloween e Sexta-feira 13. Em 2010, chegará à nova versão de A Hora do Pesadelo. E a saga destes monstros humanos não parece que chegará a um fim.

O caso Batman e os quadrinhos no cinema
O “filme evento” de verão renasceu com Batman, em 1989. O marketing agressivo chamou a atenção do público e a obra de Tim Burton tornou-se um dos maiores sucessos da história de Hollywood. Como o diretor não curtiu a experiência do primeiro filme, pois afirmou “trabalhar com uma arma apontada para a cabeça”, ele teve aval completo para dirigir a seqüência que chegou três anos depois. Mais sinistro e bizarro Batman: O Retorno saiu caro, foi pago e gerou certo lucro, mas não usufruiu da mesma renda de seu antecessor.

A Warner decidiu mudar seus planos achando que filmes sombrios de quadrinhos não interessavam ao público familiar. Resgatou uma idéia pré-Frank Miller e seu Cavaleiro das Trevas: adaptar o seriado do Batman dos anos 60. Se for considerar o primeiro reboot de uma franquia norte-americana, Batman Eternamente deve ser ela. Algumas evidências para tal conceito: visual mais colorido, Bruce Wayne volta a ser atormentado pela morte dos pais, sem cronologia com os antecessores, mais humor. O sucesso comercial deste terceiro capítulo e de Tempo de Matar em 1996 colocou Joel Schumacher num pedestal e, assim como Burton, o cineasta conseguiu total controle sobre Batman & Robin. Pra quê? Nada funcionou e o Homem-Morcego foi para a cova por tempo indeterminado.

Desde então Schumacher nunca mais dirigiu um filme que excedesse um custo de 70 milhões de dólares e manteve-se distante de blockbusters. A obra definitivamente marcou sua carreira. Em 2006, a revista Entertainment Weekly elegeu seu filme como uma das “25 piores seqüência já feitas” ocupando a quinta posição na lista. Em conseqüência disso, a Warner demorou seis anos para ressuscitar sua franquia mais rentável.

Pouco tempos depois, gerações distintas de espectadores consumiram adaptações de quadrinhos com imensa voracidade, pois há anos houve tentativas frustradas de se levar à telona personagens da Marvel. A espera acabou com X-MEN e, principalmente, com Homem-Aranha. Suas respectivas sagas foram em frente juntando cada vez mais público nas estréias e rendendo uma bagatela sensacional de dinheiro. Aflita, a Warner queria participar do terreno que perdeu com Batman & Robin. As produções de Batman Begins e Superman Returns eram o poder de fogo necessário para enfrentar o concorrente.

No entanto, alguns personagens Marvel não funcionaram tão perfeitamente. Em 2003, Hulk não convenceu muita gente devido à (ótima) montagem literalmente em quadrinhos e o “boneco de massinha” digital. O trabalho de Ang Lee consegue arrastar-se em muitas cenas, mas a pouca similaridade do personagem com a série dos anos 80 ajudou o público a manter distância. No mesmo ano, Demolidor mostrou o quanto o estúdio Fox estava desesperado para ter um sucesso igual ao da Sony e seu cabeça-de-teia. Afinal, a personalidade de seu herói aproxima-se muito de um sombrio Bruce Wayne do que algo ao estilo “filme família”. E, por fim, O Justiceiro de 2004 perdeu créditos dos fãs e parece não ter feito muita diferença para o filme de 1990, estrelado por Dolph Lundgren.

Por sua vez, o sucesso das franquias deixou a Marvel independente e o novo estúdio resolveu administrar seus próprios personagens a partir de 2007. Adquiriu de volta alguns heróis e, para manter o bom ritmo, fez dois reboots. O primeiro estreou em junho de 2008: O Incrível Hulk. Tudo era diferente: a concepção do personagem, os atores diferentes, a montagem (convencional) de filme de ação, a certa proximidade com a antiga série. Por incrível que pareça, também não funcionou fora do âmbito dos fãs. Seria o grande homem verde não crível mesmo para as fantasias exageradas de Hollywood? Bem, meses mais tarde chegou às telas o novo O Justiceiro. Como o antecessor, outro fracasso retumbante. Embora muito mais violento e utilizando a violência referente à mídia original, os problemas de produção afetaram a obra por completo.

Em outra rota, visto que havia chances de sucesso, a Warner investiu pesado em Batman e Superman. Lançado em 2005, o reboot do Homem-Morcego rendeu muitos frutos e havia vantagem em seguir a linha proposta por seu diretor-roteirista. Após três anos de espera e um marketing viral agressivo para os fãs, O Cavaleiro das Trevas fez história. Alguns críticos e admiradores afirmam que as adaptações de quadrinhos mudarão o foco tentando ser mais próximos do realismo dado por Nolan, mas resta ainda ver quem dará esse passo, se é que vai existir um seguidor.

Contrapondo-se, a continuação do Homem de Aço virou um caso à parte. O diretor Bryan Singer adotou o filme de 1978 e sua seqüência, de 1980, como ponto de partida para o seu trabalho. Superman Returns não é um reinício e muito menos um remake; corresponde ao episódio três. Contudo, mesmo com toda a aura, a aventura não atingiu as expectativas financeiras e deixou o estúdio na mão. Basicamente arrecadou o mesmo que seu colega da Liga da Justiça, mas o custo era de US$ 100 milhões a mais. Agora, Superman sofre com um papel indefinido e cheio de problemas. Ninguém ainda sabe se será “continuado” ou se receberá novo tratamento, bem como Quarteto Fantástico, Demolidor e Motoqueiro Fantasma.

A partir disso, esse excesso de recortes distintos de personagens reflete algo que já esteja vinculado ao processo criativo das histórias em quadrinhos. Como se vê muito na área, desenhistas e roteiristas passaram por grandes editoras e trouxeram idéias que foram se manifestando por intermédio de heróis e vilões. Esses inúmeros conceitos foram incorporados a quem hoje produz filmes, por exemplo. Os comics do cinema passariam pelo mesmo processo evolutivo de sua mídia de origem. Obviamente isso infestou para outras franquias e toda a complexa história de James Bond tenha ajudado e posteriormente usufruído do mesmo método somente agora.

Além disso, o novo século revisa seu antecessor em matéria das ciências como um todo. Os estúdios seguem esses passos e têm se caracterizado por aumentar o cinema com dezenas de adaptações, mas impuseram uma revisitação forçada realizando os famigerados remakes, os fatídicos reboots e os abissais prequels. Portanto, não foi Batman Begins o catalisador dessa situação monstruosa; na verdade, ele faz parte de um gigantesco processo bem ganancioso. Até assusta ler da boca de alguém a afirmação “conquistar uma nova geração de fãs” porque, na maioria das vezes, nunca parece que realmente isso vá dar certo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tonight, Tonight

O vídeo Tonight, Tonight da banda Smashing Pumpkins representa uma fase promissora e explosiva. Nunca fui um grande fã de seu material, mas sempre adorei este clipe. A letra motivadora e a nostalgia por parte do visual arcaico afloram a imaginação de qualquer um, o mesmo que George Méliès fez ao exibir em 1902 o primeiro filme de ficção científica da história do cinema, Viagem à Lua.

Nesse período, a Revolução Industrial alcançava patamares desconhecidos e revolucionários. Assim como, uma viagem espacial era inusitada para a mente da época, fazer um filme também o era; pensar em evolucionismo e socialismo idem. Apesar das idéias Darwin e Marx/Engels não serem tão novas, alastravam-se vorazmente na mente das pessoas. Num ritmo de progresso, o homem queria conquistar mundos.

E que mundos são Sol e Lua que já foram considerados deuses na percepção dos povos antigos. Eles estão ali, sempre estiveram passeando por nosso céu todos os dias a bilhões de anos. A sua movimentação é a nossa por conseqüência. Por isso, a Lua se torna mais que um personagem, torna-se uma vigilante protetora. Devemos admirá-la e aproveitá-la. Hoje à noite... Se der.

Tonight, Tonight e Right Now (da banda Van Halen) são tão punks e, do mesmo modo, se aproximam da satisfação pessoal como lema humanitário. Suas letras colhem o dia, confiando o mínimo no amanhã. Simbolizam a partida para o futuro sem que se deixe um pedacinho de juventude mudar as vidas das pessoas, as nossas vidas. Por isso, o casal viajante nunca questiona, eles vivem, deixam os deuses de lado sem desafios e apenas lidam com o que se cruza no seu caminho. Desta forma, todos serão celebrados. E o vídeo demonstra essa satisfação quando o casal está dentro do mar – ao contrário do que ocorre na Lua, a deusa desafiada.

Nesta música, existem muitas influências da poesia de Horácio, Carpe diem, e de Robert Herrick, To the Virgins, to Make Much of Time. Enquanto o poeta romano dava a importância do presente em detrimento dos acontecimentos no futuro até como base de sua filosofia, o poeta inglês fez o mesmo, mas sem muito êxito no período elisabetano. Contudo, seu trabalho ajudou a reavivar o tipo de texto durante a projeção do arcadismo na Inglaterra no início do século XVIII.

Apesar de vivermos num mundo de culturas muito misturadas, o Smashing Pumpkins conseguiu realizar uma proeza com uma canção basicamente árcade. Há a conquista de Locus amoenus e o menosprezo da Aurea Mediocritas. Muitos não possuem tanta afinidade para se chegar a isso, considerar o carpe diem. Depois do clipe lançado, a banda acreditou nos fãs como eles acreditam nos músicos. É um jogo de inteligência e acreditar... Existe algo de mais valor do que isso?

O vídeo não tem URL, então clique aqui para ver.

Ao infinito e além

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei de Morte libertando
– Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte. (...)


Primeiras duas estrofes d’Os Lusíadas, de Camões

Ao trocar algumas palavras destes versos, pode-se classificá-lo como um desafio a todos os exploradores, inclusive aos astronautas.

A obra camoniana exalta um poderio naval português brilhante. Enquanto as aventuras das descobertas renascentistas reorganizavam a mente européia aproximando as pessoas de si mesmas de maneira mais humanista, as navegações luso-espanholas reposicionavam o homem no seu planeta. Os novos conquistadores enfiavam-se em naus à procura de riqueza, glória e conhecimento. Nos fins do século XV, os portugueses e espanhóis duelavam para assegurar sua expansão global. O Tratado de Tordesilhas é um acordo que expõe essa “Guerra Fria” da Era Moderna cujo período estava recheado de incertezas acerca de tais viagens suicidas com seus monstros marinhos e a ira de Deus (ou deuses). Os navegadores partiram porque valia à pena e suas almas não eram pequenas.

Como um ciclo da vida, quinhentos anos mais tarde, Estados Unidos e União Soviética participaram de um mesmo duelo pela conquista do espaço. Homens ambicionavam sua posição no Universo carregando uma bagagem de centenas de milhares de anos de conhecimento; por sua vez os estados antagônicos travavam uma dura batalha político-científica pela supremacia na Mãe Terra.

Hoje, dia 20 de Julho, faz 40 anos que o homem conseguiu pisar na Lua conquistando um de seus antigos deuses mitológicos. Nem é preciso mencionar as controvérsias do assunto. Contudo ressalta-se que a viagem ao espaço ainda está longe de ser fato para o humano comum. Apenas militares selecionados e gente endinheirada podem fazer uma visitinha na órbita terrestre.

O ano de 2001 passou sem que pudéssemos dançar valsas através de naus exuberantes. Outros fatores mudaram os planos. As viagens fantásticas continuam a sê-las na imaginação porque atualmente estamos mais preocupados em como será o futuro do planeta por questões de sobrevivência. E por enquanto não poderemos escapar daqui tão facilmente.

Assisti a poucos filmes de ficção-científica espacial, portanto, não há muitas obras antigas ou em preto e branco. Mas há poucas que podem ser levadas a sério como também existem números baixos de produção sobre o nosso Sistema Solar. Assim deixo esta seleção acerca do espaço para apreciar e/ou pensar:

2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick
Um monólito negro surge na pré-história interferindo na atividade do planeta com emissão de uma civilização extraterrestre. Milhões de anos depois, ele surge em Júpiter e afeta alguns astronautas. Logo, uma equipe é enviada para investigar. Dentro de uma nave totalmente controlada pelo computador HAL 9000, a situação mostra-se cada vez mais aterrorizante já que a inteligência artificial tenta assumir o controle da missão. Simplesmente, o mais completo filme de ficção-científica no espaço. Às vezes pode ser moroso, por isso , deve-se assisti-lo com atenção.



Aliens – O Resgate (1986), de James Cameron
Após um primeiro capítulo bem finalizado por Ridley Scott, Cameron teimou em fazer uma seqüência. O sucesso foi estrondoso e o clima tão absurdamente sinistro quanto o do filme anterior. Depois de ficar à deriva por anos, a Tenente Ripley volta a enfrentar monstrengos babões com a ajuda de uma equipe militar de elite para resgatar dezenas de pessoas de uma colônia planetária atacada pelos aliens. Esta obra deu brecha para várias cópias fracas.

Apollo 13 (1995), de Ron Howard
História real dos tripulantes da nave Apollo 13 que sofreu uma pane durante missão à Lua. Com ajuda da NASA, os três astronautas retornaram no veículo avariado com várias chances de se perderam pelo caminho. Além disso, não tiveram tanto reconhecimento quando foram para o satélite, mas devido às circunstâncias, voltaram como heróis.





Cowboys do Espaço (2000), de Clint Eastwood
Por pura politicagem, um quarteto de pilotos é posto de lado num projeto de viagem espacial. Anos depois e já idoso, o líder (Eastwood) é convocado para consertar um satélite russo dos tempos de Guerra Fria. Ele concorda em ir até lá com seu grupo ao invés de fazer tudo por computador. O filme veio na onda da segunda experiência de John Glenn, aos 77 anos, em órbita terrestre em 1998.




Da Terra à Lua (1998), de Michael Grossman
A minissérie conduz a história da conquista da Lua pelos Estados Unidos através de muitos personagens que possibilitaram o acontecimento de 1968. Para comemorar os 30 anos do episódio, Tom Hanks produziu doze capítulos acerca da corrida espacial.






Os Eleitos (1983), de Philip Kaufman
Durante a corrida espacial, um grupo de astronautas é apresentado como heróis estadunidenses para a conquista do espaço. Infelizmente, nem todos conseguem o estrelato. Além de contar com emoção os casos da NASA, o roteiro mostra também a vida de um herói solitário no meio do deserto quebrando recordes de altitude com seus testes em aviões supersônicos.




Missão: Marte (2000), de Brian De Palma
Quatro astronautas são enviados ao planeta Marte para investigar o que ocorreu com a missão da nave anterior. Relativo sucesso de bilheteria que teve um concorrente indireto lançado no mesmo ano que se deu mal: Planeta Vermelho. Contudo, esta obra de DePalma não é o melhor representante (leia-se, filhote) da filosofia de Kubrick. Deixa a desejar em muitos aspectos e é chato. Os efeitos da evolução da Terra são bacanas, mas é pouca coisa.




Outland – Comando Titânio (1981), de Peter Hyams
Transferido à colônia mineradora de Io, satélite de Júpiter, um patrulheiro espacial investiga as causas da morte de diversos trabalhadores – algumas de maneira violenta. Lá, descobre uma anfetamina que deixa as pessoas ligadas até não agüentar mais. Com poucos aliados, o patrulheiro passa a ser alvo de assassinos. Típico de alguns seres humanos colonizarem tudo o que se vê e lucrar com a fraqueza alheia mesmo em outros planetas. Bom ritmo de suspense, mas com um final óbvio.


Serenity (2005), de Joss Whedon
Continuação da série de TV Firefly em forma de longa-metragem. Os combates humanos travados no planeta natal agora são realizados no espaço. A história ocorre alguns anos depois da Guerra de Unificação. O capitão da nave Serenity participou do acontecimento, mas estava no lado perdedor; agora vive de assaltos com sua tripulação. Quando o médico da equipe resgata sua irmã, todos ficam em perigo, pois a garota faz parte de um programa da Operativa, uma espécie de governo espacial. O filme mostra o porquê da existência dos assassinos canibais, Reavers.


Star Trek (2009), de J.J. Abrams
No futuro, o ser humano é unido em seu planeta e seus inimigos agora vivem no espaço. Há muitas cenas de preconceito, principalmente relacionadas a Spock. A idéia de recomeço da saga Jornada nas Estrelas é levada ao limite, pois os acontecimentos do filme sugerem uma linha nova com infinitas possibilidades ao contar a história dos exploradores da nave Enterprise. Não há Terra destruída e os humanos sempre retornam para casa. O que vale é a exploração, assim como, os navegantes lusitanos faziam.



Sunshine – Alerta Solar (2007), de Danny Boyle
Grupo de sete cientistas percorre um longo caminho até o Sol para bombardeá-lo e aumentar a profusão de seu calor que aos poucos se extingue. A missão dá errado quando eles resolvem resgatar a nave anterior que tinha o mesmo objetivo e está à deriva. Boa construção narrativa, mas, durante o clima de terror, a montagem incomoda. Os melhores momentos estão na observação ao planeta Mercúrio e o vício pela luz solar de alguns tripulantes.




Titan A.E. (2000), de Don Bluth e Gary Goldman
O planeta é atacado por uma raça alienígena e completamente destruído. Os seres humanos espalham-se pelo espaço sendo tratados como ralé de muitos outros povos. O filho de um cientista é a chave para se encontrar outro lugar para sua raça sobreviver. Inicialmente, ele reluta, mas decide realizar a perigosa tarefa. A animação foi um fracasso de bilheteria, mas tem bons momentos.




Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès
Inspirado pelo romance de ficção de Júlio Verne, a obra conta a história de cinco astrônomos que aterrissam no satélite dentro de uma cápsula lançada por um canhão gigante. Lá são aterrorizados pelos selenitas; conseguem fugir e chegam seguros a Terra. Considerado o primeiro e mais velho filme da história do cinema. Para quem gosta de coisa antiga é muito divertido.





O Vingador do Futuro (1990), de Paul Verhoeven
Homem de classe média tem pesadelos com o planeta Marte. Ele decide realizar uma viagem mental pelo lugar, mas algo dá errado e diversas pessoas estão à sua procura. Logo, investiga a si próprio indo até a colônia humana fincada no planeta vermelho. A obra choca pelo excesso de violência, mas a história é espetacular e se não ficar atento vira uma bola de neve.




Wall-E (2008), de Andrew Staton
Um pequeno robô-empilhadeira vive há 700 anos na Terra acumulando montanhas de lixo num planeta quase morto. Uma nave aterrissa e deixa um ser artificial mais desenvolvido, EVA, para investigar o lugar. Ambos se conhecem e quando EVA é forçada a ir embora, Wall-E a persegue. Impactante do começo ao fim, essa pérola demonstra o quanto o homem pode destruir sua casa sendo que o necessário seria apenas cuidar dela.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Right Now

Bem agora, tem alguém acordado passeando com seu cachorro.

Bem agora, o silêncio é mais reconfortante do que qualquer outro som.

Bem agora, uma garota completa seus 10 anos de vida.

Bem agora, um amigo sonha com uma vida produtiva.v
Bem agora, já passou num instante.

Bem agora, Thiago está com sono.

Bem agora, um texto é escrito sobre um clipe.

Bem agora, presencie a sabedoria das frases que são difíceis de ler quando o vídeo é transmitido.

Bem agora, tem um vídeo abaixo do texto que pode ser assistido.

Bem agora, o tal vídeo pode ter perdido URL então você terá de vê-lo clicando aqui.

Bem agora... Divirta-se.

Right Now

Right Now Ed is playing the piano.

Right Now, people are having unprotected sex.

Right Now opportunity is passing you by.

Right Now, justice is being perverted in a court of law.

Right Now, blacks and whites don’t eat together very much.

Right Now you could be outside.

Right Now, the light from a star in M-5 is heading toward Earth.

Right Now, light that left M-5 a thousand years a go is getting to your house.

Right Now, god is killing moms and dogs because he has to.

Right Now, guilt is turning someone inside out.

Right Now, Van Halen is planning a world tour.

Right Now, there’s a bomb factory hard at work.

Right Now you are sitting too close.

Right Now, somebody’s got the wrong idea.

Right Now, oil companies and old men are in control.

Right Now, it’s business as usual in the woods.

Right Now nothing is more expensive than regret.

Right Now

Right Now people who can’t (B)read(the) are bumming.

Right Now is just a space between ice ages.

Right Now youth is king.

Right Now, maybe we should pay attention to the lyrics.

Miss the beat, you lose the rhythm,

And nothing falls into place, no

Right Now is a good time to repent.

Only missed by a fraction

Slipped a little off your pale

Right Now, the truth is being obscured.

Right Now, science is building a better tomato.

Right Now, pigs are becoming lunch.

Right Now, someone is working too hard for minimum wage.

Right Now a convenience store is open.

Right Now, Mike is thinking about a solo project.

Right Now your parents miss you.

Right Now oysters are being robbed of their sole possession.

Right Now no one is safe from loneliness.

Right Now it’s cold where someone you love is.

Right Now it’s nicer in cabo.

Right Now, a mad man is wandering the streets of the town you live in.

Right Now a tired man with a wounded heart is sitting in a coach seat an eastbound transatlantic flight looking out the window wondering how to say “dog”, “howl” and “moon” in French just in case it comes up.

Right Now she is going on with her life.

Right Now, time is having its way with you.

Right Now, forces are aligning against you.

Right Now, someone is walking onto a nude beach for the first time.

Right Now, Ed’s got his hands full.

Right Now, you wish you had a larger tv.

Write Now. Now

Right Now, our government is doing things we think only other countries do.

Right Now you aren’t doing what you most wish you were.

Right Now is harder than it looks.

Right Now your memory is getting longer while your life is getting shorter.

Right Now dogs have it good.

Right Now is not the fault of the japanese.

Right Now there is no cure.

Right Now people are doing it for money.

Right Now a bowl of soup would be nice.

Right Now keeps happening.

Right Now we must be going.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Can’t Stop Lovin You

Algumas bandas dialogam tão bem com palavras profundas que seus fãs lhe reservam homenagens como U2 e a Filosofia ou Metallica e a Filosofia. A banda Van Halen não possui esse aspecto e de tão direta em suas canções não faz nem falta essa aura psicológica. É para se divertir... E viver.

Quando David Lee Roth dominava os vocais, o grupo satisfazia o público através de um gosto anárquico e festeiro. A farofa era evidente na canção Hot for Teacher: “Hey, I heard you missed us/ We're back! (Hey!)/ I brought my pencil/ Give me something to write on, man!”. Os outros discos também eram recheados de composições ilustrativas.

Depois do álbum 1984, o fim da parceira com a banda chegou. Enquanto Eddie Van Halen participava dos enfeites de guitarra de Beat It e queria incorporar mais teclados e baladas nas futuras músicas da banda, Roth pensava diferente. Um suposto cuspe na cara afundou a relação. E aí, entrou Sammy Hagar na história toda.

Opinião pessoal: prefiro o segundo vocalista ao primeiro. Roth traz alegria e festa. Ele é o espetáculo, um cara do rock de arena. Por sua vez, Hagar não tem essa veia. Sua voz é mais melodiosa, reconfortante. As canções são mais redondas e menos blueseiras. O sucesso foi enorme na época com 5150, OU812, For Unlawful Carnal Knowledge e Balance. Este último disco com Sammy Hagar se tornou a cartada final da banda que tentou, em 1998, voltar às grandes paradas com Gary Cherone (do Extreme), mas não obteve tal êxito.

Um dos singles de Balance, Can’t Stop Lovin You, serve como prova de conteúdo direto da banda. A canção é simples, reflete o amor incondicional de uma pessoa pela outra. Tudo faz parte desse bolo: pais, filhos, irmãos, amigos, namorados, bichos. Também sinaliza o apoio da banda na alegria. Independente do que Van Halen toca é muito difícil ficar deprimido ao ouvir uma de suas canções.

O vídeo nada tem de anormal, mas é singelo. Possui uma homenagem a Ray Charles e sua balada romântica I Can’t Stop Lovin You; está no finalzinho enunciado por Hagar de uma maneira legal e positiva. Depois de ouvir, dificilmente Ray estará errado.

Se o clipe abaixo estiver deletado, clique aqui.

Is This Love

Em 1987, certo Rei do Pop aprimorava seus videoclipes contando com cineastas experientes e efeitos especiais de primeira linha. Os trabalhos ainda avançavam para um futuro incerto, mas promissor em que o curta musical tornasse um evento tão grande quanto o disco vendido em lojas. No mesmo ano, a banda inglesa Whitesnake faria o mesmo para a autopromoção.

Buscando um lado mais comercial durante a década de 80, David Coverdale conseguiu finalmente atingir um sucesso mais do que respeitável nos Estados Unidos com o álbum Whitesnake e seus hits Is This Love e Here I Go Again. Esta canção atingiu grande repercussão com seu clipe lançado na MTV e apresentou ao mundo a (mais modelo do que) atriz Tawny Kitaen.

No quesito palco, bagunça e falta de história, o clipe de Here I Go Again se compara claramente aos do Europe, Aerosmith, Poison e até Van Halen. Por isso, Is This Love é o que interessa porque tem uma história de amor (!) apesar das mesmas conveniências desses vídeos e menos acrobacias de Kitaen. Há um clima mais sombrio cujo figurino é embalado por integrantes da banda vestidos de preto, colorido de menos e “pseudotristeza” demais. Ou seja, uma novela mexicana.

Os sentimentos desvairados do vídeo são mal interpretados e filmados. Um show de horrores que diverte. Existe graça por trás da modelo com seu vestido justo e salto megalomaníaco jogando roupas dentro de uma mala sem saber o que fazer a seguir. Pior, a eterna pureza de sua roupa branca não se justifica num caso de amor em que seu par veste-se como um cafetão – o que à época era chique.

Por sua vez, Coverdale é um ator horroroso; e ele sabe disso. Suas limitadas facetas se estagnam em biquinhos tristes e um olhar pouco calculista. As melhores cenas são as do corredor onde o operador de câmera trafega para trás e para frente à procura da melhor posição de seu protagonista. E ainda há um erro aos 2min43s cujo rosto do cantor fica cortado e a tela se ajusta no meio da filmagem.

Na divulgação, absoluto sucesso. O vocalista posteriormente se casou com Tawny em 1989 e ela trabalhou em outros vídeos para o Whitesnake que abriu as portas para sua carreira em vários programas na televisão. Não adiantou muito a convivência e o casal se divorciou dois anos depois – assim como o homem fez com quase todos os membros que já passaram pela banda.

Hoje resta a nostalgia. O canal VH1 quase sempre transmite este vídeo em sua programação. Naquele programa, os 60 Melhores Clipes, Is This Love já esteve entre as mais românticas, "pra ficar coladinho", "cabelos estranhos" entre outras bizarrices. É um clássico. A canção está entre as mais belas e bregas músicas românticas existentes. O Whitesnake pode ter tomado um rumo estranho e imediatista na sua carreira, mas não deixa de ser divertido. E, além de punho de ferro, David Coverdale soube aproveitar muito bem essa veia comercial.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Enlatados

A arte em si possui um viés de propagar idéias com sabedoria e criatividade. Dentro de uma cultura, engrandece seus aspectos sociais diversificando a inteligência da comunidade, motivando-as como civilização prestigiada e influenciando os parâmetros artísticos do futuro. Na lista das artes, a sétima produz uma força econômica poderosa e não nega sua característica massiva, principalmente para os estúdios de Hollywood.

Certa vez, ouvi de meu chefe, dono de vídeolocadora, sobre os filmes estadunidenses o seguinte: estes não passavam de enlatados com produções fúteis para uma massa em busca de caça-níqueis; em contrapartida, dever-se-ia valorizar os filmes de arte, o cinema europeu e asiático etc. Não foi a única pessoa que já me falou isso, não será última e tenho de concordar com alguma coisa, afinal Hollywood cansa as mentes alheias com suas bombas.

Só que o cinema norte-americano buscou esta linha de produção fordista adquirindo um volume de lucro extorsivo através do merchandising. Tudo pode ser vendido e muitas vezes alguns filmes se pagam antes de estreiar. Igualmente, os Estados Unidos se nutrem dos conceitos e técnicas estrangeiras regurgitando-as como criações próprias. Se antes isso ficava mais à surdina para a grande massa, hoje é completamente disseminado entre ela. Ao final, todo o trabalho era vendido como uma lancheira, uma caneta ou um caderno em escala industrial.

Durante os anos 1930, os estúdios venciam a concorrência européia – em parte por causa da “fuga de mentes” na Alemanha e da conseqüente Segunda Guerra Mundial – e firmaram um terreno nos buracos das culturas forasteiras ao redor do globo. Isso durou anos e em muitos lugares sequer há uma produção no mínimo eficiente de cinema. Enquanto Brasil, Argentina e México fortalecem seus mercados, outros países da América Latina não conseguem avançar. Em outros continentes existe o mesmo problema.

Algumas nações afrontam esse poderio do mercado cinematográfico com estruturas mais fortes – França, China, Índia e Japão – e nestas os Estados Unidos têm mais dificuldades em arrasar a concorrência. Por quê? Além de se autovalorizarem culturalmente, essas nações jogam de igual para igual com o filme imigrante. Por exemplo, os chineses têm restrições fortíssimas com o cinema de fora sendo que apenas 20 cópias por ano conseguem sua introdução naquele mercado. Em outro caso, os indianos têm Bollywood e se satisfazem muito mais com sua indústria do que com a alheia. Ainda há o fato de que alguns blockbusters não pegam no Japão, afinal Batman: O Cavaleiro das Trevas levou uma surra do anime Ponyo em 2008.

Além disso, o apreço que Hollywood tem pelos sucessivos recordes de bilheteria leva a crer aos demais a sensação de querer participar desse bolo também. Ou de muitas outras fatias disponíveis. Aí entra a lógica de mercado, e isso vale para qualquer filme independente de sua origem. Um diretor pode não se preocupar em quanto seu filme irá arrecadar, mas ele quer público. Desta forma, o trabalho precisa ser vendido, pois é algo caro e muitos profissionais se esforçam para ter reconhecimento por ele. É praticamente a mesma coisa com o teatro ou a música.

Deste modo, os festivais de Cannes, de Sundance, de Berlim, de Toronto, de Veneza abrem as portas para a negociação entre produtores e distribuidoras. Depois de uma passagem nas telonas, esses filmes passam pelo processo seletivo das vídeolocadoras e do público. Ou seja, são vendidos porque estão incluídos dentro de um mercado e, portanto, são todos enlatados. Em decorrência disso, alguns transeuntes culturais dizem que os estrangeiros realizam filmes de arte enquanto cineastas hollywoodianos não; ou somente os norte-americanos sabem fazer cinema (sério, já ouvi ambas as frases). O apreço por este tipo de cinema é questão de gosto, mas o argumento além de impróprio e taxativo qualifica-se também como improdutivo e imbecil.

Quer dizer que se indianos copiam descaradamente um filme dos Estados Unidos (ou de qualquer outro lugar) não estão produzindo a mesma coisa? E a França lançando as continuações do sucesso Táxi? E o cinema brasileiro com Se Eu Fosse Você? E a enorme quantidade de filmes lançada todos os anos de várias partes do mundo dos gêneros drama, suspense, ação e terror enquadram-se no quê? Por outro lado, Fargo, Sangue Negro, Wall-E, 21 Gramas, Magnólia ou Os Excêntricos Tenembauns deixariam de lado sua classificação como “filme de arte” por serem norte-americanos?

Existe uma coexistência entre todos os gêneros possíveis nas prateleiras ou nas TVs por assinatura. Algumas obras nem poderiam se fixar num gênero específico. Enquanto Star Trek e Cloverfield se adéquam entre o cinema e a televisão, o diretor Steven Soderbergh tem um status quo de representação independente em todo o suja carreira, influenciado por conceitos de Jean-Luc Godard; há idéias oriundas do trash nos filmes de Robert Rodriguez, Quentin Tarantino e Peter Jackson assim como Akira Kurosawa fora de grande influencia conceitual a George Lucas, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, entre outros.

É uma miscelânea de tudo. As fronteiras estão sumindo e se ainda não foram, minam-se elas através de YouTubes da vida. A imagem do cinema no mundo digital é um liquidificador cheio de filosofia, arte e idéias novas que se misturam a todo o momento. Dali surge uma surpresa e, como o antigo chocolate da Nestlé, está embalada num pacotinho pronto para a venda na esquina mais próxima da sua casa. Se para alguns é só mais um enlatado, para outros é trunfo da arte.

terça-feira, 7 de julho de 2009

The Unforgiven

Os vídeos musicais que julgo serem muito bem construídos são caracterizados por narrativas curtas e possibilitam uma linguagem inteligentemente coesa e profunda. Sempre busca em estéticas antigas do cinema esse apoio moral aprimorando com mais agilidade novos paradigmas audiovisuais – que de maneira inevitável influenciou o cinema atual.

Enquanto algumas excepcionais músicas são por si trunfos de seus criadores e auxiliam na imaginação de estórias trágicas ou cômicas sem cair na redundância, outros videoclipes se sintonizam a estas canções elevando-as a algo maior com uma teatralidade apurada.

Apresento então The Unforgiven, obra soberba do Metallica que foi inserida no Black Album lançado em 1991. Este disco causou horrores por dois motivos: o primeiro consiste na mudança de som deixando o trash de lado para abranger a um rock pesado com mais amplitude popular; o segundo alçou a banda ao estrelato mundial por conseqüência dos recordes de vendas para o gênero.

A música é uma balada pesada e melancólica de um ser humano obrigado a ser o que os homens mais velhos (ditos mais sábios) querem que ele seja. A perda de identidade é uma questão de tempo enquanto os arrependimentos surgem pela falta de combate e envelhecem amargamente como um velho enfurnado num obscuro canto de sua alma. As letras são influências de seu autor, James Hetfield, que cresceu no mundo nebuloso da crença dos seus pais, a Ciência Cristã.

Para evocar tal aspecto espinhoso, o vídeo de Matt Mahurin segue uma estrutura expressionista de fotografia para conceber tal brutalidade depressiva. As expressões atemorizadas do personagem em suas várias facetas equiparam-se às mesmas dos filmes alemães dos anos 20, assim como, os fechamentos de planos que gradualmente escurecem o ambiente lúgubre. E é neste local que o personagem menino se afunda num muquifo, uma toca de rato, para enganar os homens sábios. O buraco tem uma aparência de deboche vinculada ao pôster de um palhaço enganador que se satisfaz com a angústia alheia, com o bullying descabido. E o guri reflete sua penumbra travestindo-se de clown e com um singelo “vá se foder”. demonstra seu apreço pelo mundo que o condena.

E em certo momento, quando envelhecido, o homem fura sua mão e esparrama sangue pela parede. Uma palavra inscrita no cimento – yest, possível contração de yesterday – alude ao seu passado desesperançoso: What I've felt/ What I've known/ Never shined through in what I've shown/ Never free/ Never me/ So I dub the unforgiven.

O clima do vídeo claramente deprime qualquer um, mas as amostras de poder durante as estrofes e a sensibilidade do refrão conferem à canção uma dinâmica facunda, mesmo com as dificuldades transmitidas pelo enredo. Intrincada e personalista, a música foi um dos grandes sucessos do álbum; contudo esta obra de arte de Mahurin segue como o melhor toque visual da banda sendo difícil sua superação.


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Batman Unmasked

Com o acontecimento Batman: O Cavaleiro das Trevas em 2008, o canal History Channel transmitiu um documentário acerca do personagem desde que foi concebido. O video mostra as nuance psicológica e sociológica que levou Bruce Wayne a se motivar em fazer purê de bandidos como um vigilante noturno, seu papel para a cidade natal e seu espelho aterrorizador representado por vilões tão díspares e violentos. Toda essa cumulativa miscelânea fez surgir um dos maiores e inteligentes heróis dos quadrinhos e um grande ícone da cultura pop.

O documentário posto no Youtube tem cinco partes e com legendas.


sábado, 4 de julho de 2009

A Era dos Dinossauros

DATA: 65 milhões a.C.
Não há um filme que conte as circunstâncias do Big Bang – mesmo porque não haveria personagens para agir nessa situação –, portanto nada mais justo do que iniciar o processo de narração da História pelos lagartos terríveis, vulgo dinossauros.
Durante todo o período em que o cinema foi se aprimorando, os dinos dificilmente eram bem tratados. Alçados como feras assassinas gigantes feitas de massinha de modelar nos primeiros filmes, eles disputavam terrenos de maneira violenta e normalmente faziam seres humanos de petiscos. Se as terras inóspitas do planeta asseguravam o habitat desses repteis, caçadores desalmados adoravam invadi-las ao seu bel prazer. E assim, perseguidos como monstros, os bichos caíam em desgraça ou eram mantidos em paz.
Deve-se dar graças a Michael Crichton, Steven Spielberg e George Lucas pela concepção dos dinossauros como animais e não aberrações. Através de efeitos especiais por computador aprimorando o realismo, esses seres influíram no imaginário da geração que chegava ao fim do século XX. No entanto, os erros científicos sempre interferem na visão dos cientistas mesmo que seja para contar uma boa estória: os Velociraptores são muito grandes, o Tiranossauro não corria tanto e por aí vai. Independente do que dizem, os autores sabem no que estão mexendo, pois peritos trabalham com eles. O problema é a visão distorcida que o público vai ter.
A série Jurassic Park ainda representa bem a recriação pela clonagem de tais espécies por gananciosos seres humanos enquanto se proliferam por um mundo perdido no meio do oceano. Deve-se levar em conta que as estórias situam os dinossauros nos dias atuais e não em sua própria época. As mudanças se equivalem dentro do padrão da ficção.
Então, o que dizer de Dinossauro (2000)? Compromete-se como uma versão tecnicamente mais rica que a animação 2-D Em Busca do Vale Encantado, lançado em 1988. Nos dois casos, a idéia básica está na diáspora que assola a vida na Terra. Se em Vale Encantado devastadores abalos sísmicos e erupções vulcânicas modificam todo o aspecto terrestre – aludindo à deriva continental –, em Dinossauro existe o gigantesco meteoro em queda e, por conseguinte, explodindo como uma bomba atômica voraz.
Aos poucos, a vida vegetal beira à escassez enquanto as espécies herbívoras são presas cada vez mais fáceis dos bichos carnívoros. Ambas as obras tinham a idéia de serem quase documentais, ou seja, não haveria qualquer diálogo. Os dinos urrariam, os sons “naturais” teriam predominância e o espectador poderia ambientar-se com a vida selvagem. Contudo, mudanças de roteiro e apelos de membros (in)diretamente ligados à produção ocasionaram tais anacronismos. O resultado é sofrível.

Dinossauro busca no realismo contemplar absurdos espetaculares e risíveis: por que animais do período Jurássico devem se misturar aos do Cretáceo sendo que já estavam extintos? Por que todo carnívoro é vilão e todo herbívoro é mocinho? Por que re-filmar Em Busca do Vale Encantado com efeitos de Jurassic Park (ambos com dedo de Spielberg)? Por que enfiar um final feliz abusivo sendo que todo mundo foi morto milhares de anos depois? Porque é Disney! E pode-se até qualificar este desenho entre os piores feitos pelo estúdio. Em compensação, os efeitos são magníficos: logo no começo com o vôo singular do pterodáctilo, passando à explosão do meteoro que invoca a peregrinação, não a muito do que reclamar. E fica nisso.
Sendo assim, Em Busca do Vale Encantado intencionava ser bem infantil, justificando até a falta de exatidão científica para enfeitar dramaticamente a estória. Em contraparte, o conteúdo de Dinossauro chega a ser tão piegas que o espectador mais cético o menospreza por completo. Sério, se a extinção dos dinossauros foi tão maniqueísta é preferível acreditar em Chuck Norris se apresentando na pré-história e dizendo: “Olá dinossauros! Eu sou a extinção.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Kevin Smith

O escritor, fotógrafo e filmmaker Lee Stranahan realizou essa entrevista com o cineasta Kevin Smith cujo trabalho em Hollywood é notável dentro do cinema independente. Em sua ainda curta carreira, houve polêmicas que perduraram em filmes como Dogma e Procura-se Amy, e inventividade através da maneira simples e interessantemente nerd em contar a estória de O Balconista.

Seu próximo projeto será A Couple of Dicks (ex-A Couple Of Cops) (Tiras em Apuros - atualizado em 7/7/10), uma comédia com Bruce Willis e Seann William Scott marcada para estrear em fevereiro de 2010. Além disso, já é o primeiro filme a não ser roteirizado pelo próprio Smith. A parte 1 trata de sua contratação para as filmagens; as demais correspondem ao conjunto da obra, vida privada e profissional além de lados distintos acerca da internet, um meio de comunicação com o qual o próprio cineasta busca trabalhar e se divertir.

Todos os vídeos estão em inglês e sem legendas.